Abordagem da obesidade infantil: um tema essencial na medicina moderna
A obesidade é um dos assuntos mais importantes da medicina moderna, não só da pediatria. Independentemente da área médica em que você atua, não será mais uma opção não atender pacientes com excesso de peso. Estamos vivendo uma epidemia. O número de crianças com obesidade só cresce. Em 2016, tínhamos uma prevalência de obesidade de 17,6% em meninos entre 5 e 9 anos de idade. A projeção é que em 2030 essa prevalência nesta faixa etária suba para 22,8%. Serão mais de 7 milhões de crianças com obesidade no Brasil entre 5 e 19 anos em 2030 (dados da World Obesity de 2019). Em adultos não é diferente. Pelos números crescentes, estima-se que mais de 40% da população adulta terá obesidade em 2035. Sem contar com os adultos com sobrepeso, quadro menos grave que a obesidade. É importante termos conhecimento desses números até para conseguirmos avaliar o impacto de qualquer intervenção. Sem intervenções substanciais para prevenir e tratar a obesidade infantil, o número de crianças em idade escolar e adolescentes que vivem com obesidade deverá aumentar cada vez mais, com todas as suas consequências. Qual a explicação para esse aumento acentuado? Os índices de obesidade vêm aumentando desde o final da década de 70, início dos anos 80, no mundo todo. O que aconteceu desde então? Uma tendência a ficarmos cada vez mais sedentários e uma piora do nosso padrão alimentar, com um maior consumo de alimentos ultraprocessados. Houve uma modificação no ambiente, enquanto nossa biologia permanece a mesma. Há milhares de anos, tínhamos escassez de comida, tínhamos que caçar para comer, andávamos muito e comíamos pouco. Quem conseguia poupar mais energia, sobrevivia. E agora temos praticamente a mesma genética (poupadora de energia) em um ambiente totalmente diferente, com abundância de alimentos. Diante deste cenário, o que podemos fazer? A primeira coisa é não subestimar a gravidade e a complexidade do problema. A obesidade é uma doença crônica, multissistêmica e recidivante. Tem fisiopatologia própria e deve ser prevenida e tratada. E abro um parêntese: considerar a obesidade uma doença não é gordofobia. Gordofobia é extremamente frequente e devemos combatê-la. Mas podemos fazer isso sem negar que seja um problema de saúde e que pode e merece ser tratado. Não devemos romantizar a obesidade. Já foi comprovado, por meio de estudos de autópsia de crianças e adolescentes falecidos por morte de causa externa, que a doença aterosclerótica tem início na infância. Também, que a obesidade, a dislipidemia e a hipertensão são fatores de risco para esse início precoce, acelerando sua progressão. Além disso, é grande a chance de uma criança acima do peso que não recebe tratamento vir a ser um adulto também com excesso de peso. A obesidade diminui a expectativa de vida do indivíduo. O ideal seria prevenir o excesso de peso? Sim, com certeza. Prevenção seria o ideal. Como o tratamento da obesidade não é fácil, o nosso foco deveria ser na prevenção. Infelizmente, as estatísticas mostram que nós não estamos conseguindo prevenir esta condição. Como seria essa prevenção? Podemos atuar desde o pré-natal, para que a mãe tenha um ganho de peso adequado durante a gestação. Já se sabe que o ganho de peso excessivo durante esta fase predispõe à obesidade do filho. Devemos apoiar o aleitamento materno. O aleitamento materno exclusivo, pelos menos até os 4 meses de vida do bebê, já reduz em 22% o risco de obesidade nessa criança. Podemos promover hábitos de vida saudáveis para todos da família nas consultas de puericultura. E fazer o acompanhamento regular do crescimento durante toda a infância e adolescência, utilizando a curva de IMC (índice de massa corporal) desde o nascimento. Devemos intervir precocemente quando a curva de peso e IMC estiverem ascendentes. Diagnóstico e intervenção precoces são muito importantes. Qual um erro frequente no manejo desses pacientes? Além de subestimar a gravidade da doença, é um erro frequente subestimar a sua complexidade. Precisamos parar com essa visão simplista e preconceituosa de que alguém fica acima do peso simplesmente porque consome mais calorias do que gasta. A obesidade é uma doença de natureza complexa e multifatorial decorrente da associação entre fatores ambientais, hormonais, genéticos e epigenéticos. Mas a sociedade tende a achar que uma pessoa com obesidade está assim por escolha própria, por preguiça, desleixo, por fraqueza de caráter, por falha moral e por aí vai… Muito frequentemente os próprios profissionais de saúde têm essa visão e não gostam de atender esses pacientes. As crianças e adolescentes com obesidade já convivem com o estigma da doença, que só vem aumentando, por sinal. O sofrimento emocional decorrente da obesidade é o principal motivo pelo qual procuram ajuda. A abordagem desses pacientes e de suas famílias deve ser cuidadosa. Uma palavra ou termo utilizado de maneira inadequada durante a consulta médica pode ser percebido pelo paciente como julgamento, crítica – mesmo tendo sido feito na melhor das intenções. A linguagem importa e não precisamos mudar a língua portuguesa para tratar o paciente com respeito e empatia. Por exemplo: devemos evitar chamar o paciente de obeso. O paciente não é obeso; ele está com obesidade. Assim como não falamos paciente canceroso, falamos paciente com câncer. Também podemos evitar o termo excesso de gordura. Uma palavra melhor seria excesso de peso, ou peso acima do considerado saudável. A genética tem muita influência? A genética desempenha um papel importante no fenótipo nutricional. Mesmo em um mesmo ambiente, pessoas têm índices de massa corporal diferentes de acordo com a predisposição genética para a obesidade. Ela pode influenciar de 40 a 80% do fenótipo. Quanto mais grave a obesidade, maior é a influência da genética. Estudos da década de 90, que acompanharam o crescimento e desenvolvimento de gêmeos monozigóticos e dizigóticos que foram separados na infância, mostraram 70% de concordância no índice de massa corporal entre os irmãos, mesmo vivendo em ambientes completamente diferentes, com famílias diferentes. Mas a pessoa com excesso de peso come mais e pior? Muitas vezes sim. Diversos genes relacionados à obesidade são expressos no cérebro e influenciam o
O que não me contaram sobre o internato
Olá! Meu nome é Thais Albuquerque, eu sou médica e psicóloga e hoje vim falar sobre as coisas que não me contaram sobre o internato. Antes de irmos para a leitura de hoje, gostaria de agradecer pela oportunidade e pela repercussão que tive no meu primeiro texto escrito aqui no blog Blackbook. Ah, e se você ainda não teve oportunidade de ler, recomendo você clicar no banner abaixo pra já ler assim que terminar este conteúdo aqui! Agora sim, vamos lá! O tão aguardado internato da faculdade de medicina Hoje em dia as faculdades de medicina se organizam com dois modelos de ensino muito diferentes entre eles. O primeiro modelo é o tradicional, que inclui a metodologia que a gente já conhece de ensino passivo, sala de aula, professor ensinando e avaliações periódicas da aprendizagem. A segunda metodologia de ensino é o PBL (Problem Based Learning, traduzindo significa aprendizado baseado em problemas), que tem se tornado mais frequente nas faculdades do país. Nele, não existe separação entre as matérias: a aprendizagem acontece através de discussão de casos clínicos nas tutorias, compostas por um grupo de alunos e um professor tutor. Em cada caso clínico, são discutidos temas importantes que darão a base do ensino médico, aproximando a prática clínica do conteúdo básico necessário. Dependendo do modelo em que sua faculdade está inserida, a prática médica do dia a dia pode estar mais presente ou mais distante. Nas faculdades cujo modelo de ensino é o tradicional, os 2 primeiros anos correspondem ao ensino básico, onde temos aula de biologia celular, biologia molecular, genética, etc (ficamos bem longe dos pacientes). Os 2 anos seguintes correspondem ao ciclo clínico, onde temos um pouco mais de contato com as doenças e podemos ter algum (pouco) contato com os pacientes. Finalmente chegamos nos 2 últimos anos, os mais esperados de todos, conhecido como internato. É aí que passamos mais tempo no hospital, atendemos pacientes, discutimos casos, etc. Cada fase é marcada por muito aprendizado e desenvolvimento. Mas não dá para negar que para quem cursa uma faculdade do método tradicional (como é o meu caso), os 2 primeiros anos são os mais maçantes e distantes da prática médica. Claro que entrar pela primeira vez no laboratório de anatomia e ter nosso primeiro contato com as peças anatômicas é maravilhoso. É de encher os olhos de lágrima de emoção. Mas para quem sonha em atender pessoas, curar doenças, passar 2 anos inteiros entre laboratórios de anatomia e microscópios, não é a coisa mais legal do mundo. A prática médica só costuma vir no início do quinto ano nas faculdades tradicionais, quando entramos no último ciclo da faculdade. Ele mesmo: o tão aguardado e, porque não dizer temido, internato. A mudança é muito drástica. Enquanto nos quatro primeiros anos a gente está habituado a passar a maior parte do tempo em sala de aula, matérias com professor, lousa e slides, tudo muda no quinto ano em diante. Meus principais aprendizados Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Thaís Albuquerque (@tha.is.albuquerque) A importância da escuta clínica É no começo do internato que a gente tem contato com pacientes da vida real. Foi quando eu me dei conta de que a escuta clínica, desenvolvida na faculdade de psicologia, poderia ser minha principal aliada. Seres humanos reais Quando a gente se depara com uma história real, com uma pessoa que está passando por um momento delicado, na grande maioria das vezes marcado por fragilidade e sofrimento, é que a gente se dá conta do peso da responsabilidade da nossa profissão. A importância de dar um passo de cada vez Não adianta querer antecipar as coisas. Se tornar médica é um processo e, por isso, se faz necessário passar por todos os passos da aprendizagem. Para fazer um bom internato, é preciso ter feito um bom ciclo clínico. Para fazer o ciclo clínico bem feito, é preciso ter o ciclo básico bem fundamentado. Vale muito mais a pena curtir todos os passos e todos os momentos do que querer correr uma maratona sem treino adequado pra conquistar o poder do carimbo médico. Mais do que um carimbo, o CRM é nosso compromisso com nossa escolha e com as pessoas que confiam no nosso conhecimento. O internato me ajudou a confirmar minha escolha profissional Foi durante o internato que eu tive a certeza de estar na profissão certa, eu não me via mais fazendo outra coisa, se não a medicina. Foi o período que me ajudou também a determinar as escolhas que eu faria depois de formada. Por exemplo, eu não me via trabalhando em plantões noturnos ou aos finais de semana. Rotinas extenuantes estavam fora da minha escolha profissional, na medida do possível. Busquei uma especialidade médica, que hoje é a Medicina de Família e Comunidade. Ela me permite trabalhar em horário comercial, de segunda à sexta. Também me proporciona o privilégio de estar próxima da minha família, amigos e pessoas que amo. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Thaís Albuquerque (@tha.is.albuquerque) E você? Sabia das diferenças no ensino médico do Brasil? Me conta qual deles você prefere e o porquê, eu vou adorar saber. Não deixem de me seguir nas redes sociais e confira meus textos para o blog Blackbook! Um beijo e até a próxima.
Rinite alérgica: aprofunde-se nesta doença que exacerba no inverno
A rinite alérgica é uma condição que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, e sua manifestação pode ser especialmente intensificada durante o inverno. Com uma prevalência de 10 a 30% na população, esta condição representa um importante desafio para os sistemas de saúde e para a qualidade de vida dos pacientes. Compreender essa condição é fundamental para médicos e estudantes de medicina, a fim de fornecer o melhor tratamento possível aos seus pacientes. O que é a rinite alérgica? A rinite alérgica é uma inflamação da mucosa da cavidade nasal causada pela exposição a alérgenos e é mediada pela imunoglobulina E (IgE). Ela é frequentemente caracterizada por espirros, congestão nasal, coceira e secreção nasal. Qual a diferença da rinite alérgica da rinite nervosa? A rinite nervosa é uma condição distinta, frequentemente ligada a emoções e estresses, enquanto a rinite alérgica é desencadeada por alérgenos específicos. Caracterizada por espirros frequentes, prurido nasal e rinorreia clara, a rinite nervosa não conta com a presença de alérgenos detectáveis. Esses sintomas são frequentemente desencadeados por estresse, emoções fortes ou mudanças drásticas na temperatura ambiental. Causa da Rinite Alérgica Para entender a rinite alérgica, é fundamental compreender sua fisiopatologia. Tudo começa com uma exposição inicial ao alérgeno, que é processado pelas células apresentadoras de antígeno. Estas células, em seguida, interagem com o linfócito Th2, incentivando-o a liberar citocinas como IL-4, IL-6 e IL-13. Essas citocinas têm um papel crucial: elas guiam a diferenciação do linfócito B em plasmócito, o qual começa a produzir IgE. Esta IgE se ligará aos mastócitos, sensibilizando-os. Quando um reencontro com o alérgeno acontece, os mastócitos sensibilizados liberam substâncias como histamina, protease e triptase. O resultado? Uma reação alérgica. Esta resposta pode ser dividida em duas fases: uma imediata (15-30 minutos após exposição, com liberação de histamina) e uma tardia (6-12 horas após, marcada pela chegada de outras células inflamatórias, como eosinófilos). Os desencadeadores da rinite alérgica são variados e influenciados pelo ambiente em que o indivíduo vive. Desde agentes ocupacionais até mudanças climáticas, é essencial que os pacientes reconheçam e minimizem sua exposição a esses fatores. O contato com certos poluentes, fumaça de cigarro, substâncias químicas e aeroalérgenos como ácaros e fungos são exemplos claros de riscos potenciais. Sintomas da rinite alérgica Sintomas Nasais da Rinite Alérgica Congestão, espirros, prurido e rinorreia são frequentes. Muitos pacientes também desenvolvem polipose nasal, resultando em obstrução e perda do olfato. Estes sintomas afetam diariamente o bem-estar do paciente, muitas vezes sendo confundidos com resfriados comuns, daí a necessidade de um diagnóstico preciso. Sintomas Oculares da Rinite Alérgica Conjuntivite alérgica, caracterizada por prurido, vermelhidão e lacrimejamento, frequentemente acompanha a rinite. Esta associação destaca a interconexão das vias aéreas superiores e dos olhos no contexto alérgico. Impactos Psicológicos da Rinite Alérgica O comprometimento do sono pode levar à irritabilidade, fadiga e diminuição da concentração. Além disso, o desconforto contínuo pode impactar o humor e a capacidade de socialização, intensificando sentimentos de isolamento ou depressão. Diagnóstico da rinite Para diagnosticar a rinite alérgica, um médico levará em consideração a anamnese e o exame físico. No entanto, existem exames complementares que auxiliam no diagnóstico e na identificação dos alérgenos responsáveis. História Clínica Os sintomas e sua relação com a exposição a potenciais alérgenos são fundamentais. É vital explorar a relação com mudanças de ambiente, estações do ano e presença de animais. Esta coleta detalhada de informações fornece uma base sólida para um diagnóstico acurado. Exames Complementares O teste cutâneo por puntura e o teste sanguíneo RAST auxiliam na identificação dos alérgenos causadores. Outros exames, como endoscopia nasal, podem ser necessários em casos de complicações. Aliás, estes testes, quando realizados em conjunto, fornecem um panorama abrangente do perfil alérgico do paciente. Após realizar o diagnóstico, faz-se a estratificação da rinite alérgica, a qual varia de acordo com a frequência e gravidade: Estratificação da rinite Por Frequência Em primeiro lugar, a classificação por frequência permite uma melhor compreensão da extensão da doença, possibilitando ajustes terapêuticos adequados ao perfil clínico do paciente. Por Gravidade A gravidade influencia diretamente a abordagem terapêutica e o acompanhamento, com casos graves necessitando de atenção especializada e acompanhamento regular. Qual é o CID da rinite? O CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) da rinite alérgica é J30, que abrange várias formas da doença, incluindo a rinite alérgica sazonal e perene. Além disso, há as subdivisões do CID de rinite alérgica, as quais incluem: J300 – Rinite vasomotoraJ301 – Rinite alérgica devida a pólenJ302 – Outras rinites alérgicas sazonaisJ303 – Outras rinites alérgicasJ304 – Rinite alérgica não especificada Tratamento da rinite alérgica O tratamento da rinite alérgica visa principalmente controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. Este tratamento inclui: Atenção Primária à Saúde e Profilaxia Por fim, a rinite alérgica é frequentemente subdiagnosticada e subtratada. De fato, os médicos de atenção primária devem estar atentos para o diagnóstico correto e a orientação inicial, encaminhando casos mais complexos para especialistas. Assim sendo, uma detecção precoce pode evitar complicações e melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Nesse sentido, evitar o primeiro contato com alérgenos, especialmente em crianças com predisposição alérgica, é essencial. Vacinas e outras estratégias estão sendo estudadas para prevenir o desenvolvimento de rinite em indivíduos em risco. Enquanto ainda estamos no início dessas pesquisas, o potencial para prevenção eficaz é promissor. Conclusão Portanto, a rinite alérgica é uma condição comum, mas que pode comprometer significativamente a qualidade de vida de quem sofre dela. Dessa forma, uma abordagem multidisciplinar, envolvendo medidas preventivas, diagnóstico preciso e tratamento adequado, é fundamental para controlar os sintomas e garantir que os pacientes possam levar uma vida normal e saudável. Médicos e estudantes de medicina devem estar cientes dos últimos avanços e tratamentos disponíveis para rinite alérgica, a fim de fornecer o melhor atendimento possível. E, com a chegada do inverno, é essencial estar ainda mais atento a esta condição, pois muitos pacientes podem apresentar exacerbação dos sintomas durante esse período. Então, saiba mais sobre a rinite alérgica no App Blackbook. Referências Bibliográficas World
Quando suspeitar de uma Doença Renal Crônica?
ATENÇÃO: O conteúdo sobre Doença Renal Crônica foi desenvolvido para profissionais e estudantes da área da saúde. Não deve ser utilizado como fonte de consultas por pessoas leigas. O Brasil tem mais de 10 milhões de afetados por algum grau de doença renal. Desse número, 140 mil pessoas estão em hemodiálise. Em 2022, 4.828 pacientes passaram por transplante renal, o que coloca o país na terceira posição no que diz respeito ao número de procedimentos desse tipo. Além disso, resulta em um mínimo de 2,4 milhões de óbitos anualmente. Com base nas informações da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), o Brasil testemunha a alta incidência de Doença Renal Crônica (DRC) avançada. Esse aumento leva ao expressivo número de pacientes dependentes de hemodiálise, o que não só compromete a qualidade de vida do paciente, mas sobrecarrega financeiramente o SUS. A fim de aprimorar e ampliar o suporte oferecido às pessoas em tratamento de Doença Renal Crônica, o Ministério da Saúde reajustou em 10,3% o valor destinado à hemodiálise convencional, dentro da tabela do SUS. Um investimento total de R$600 milhões será direcionado a essa iniciativa. Apesar do objetivo nobre, os custos poderiam ser reduzidos caso a prevenção de DRC fosse efetiva. Sabemos que pessoas que sofrem de Doença Renal Crônica enfrentam um risco três vezes maior de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares em comparação com aqueles sem essa condição. Eventos como: Como resultado, os portadores de DRC têm probabilidade substancialmente maior de enfrentar resultados fatais em comparação com a progressão para um estágio terminal da doença renal. Sabendo que em uma grande parcela dos casos de Doença Renal Crônica os fatores de risco são preveníveis e até mesmo tratáveis, é fundamental compreender a patologia, como faremos a seguir! O que é a Doença Renal Crônica? De forma geral, a Doença Renal Crônica se caracteriza pelas lesões nos rins que persistem por um período igual ou superior a três meses. O estágio final desse processo é mais reconhecido como insuficiência renal crônica, requerendo a realização de diálise ou um transplante renal para a manutenção da vida. A Doença Renal Crônica engloba transformações complexas que afetam a estrutura e a operação dos rins. Essa operação não envolve apenas a depuração realizada por eles, mas também a regulação do volume plasmático e de outros íons como: Além dos íons, regula a produção de hormônios como: Quaisquer lesões ou insultos que provoquem disfunção renal, sejam pré-renais, renais ou pós renais, podem levar à: Origem e prognósticos É importante pontuar que a Doença Renal Crônica possui múltiplas origens e vários indicadores prognósticos. O distúrbio apresenta um curso prolongado, evoluindo gradualmente e, na maior parte do período, é silencioso em seus sintomas. Inúmeros elementos estão vinculados tanto à origem quanto ao avanço em direção à deterioração da função renal. Portanto, é crucial identificar pessoas com predisposição ao desenvolvimento da Doença Renal Crônica, ou que apresentem disfunção renal leve e silenciosa, que muitas vezes é reversível. Assim, torna-se possível viabilizar um diagnóstico e abordagem mais precoces e, consequentemente, um melhor prognóstico. Para isso, é importante compreender quais os principais fatores de risco para DRC. Quais os principais fatores de risco para a Doença renal crônica? Muitos são os fatores de risco para o desenvolvimento de Doença Renal Crônica. No entanto, nesse tópico não será avaliado apenas o que pode levar ao desenvolvimento da doença. Veremos também os preditores para uma pior progressão, isto é, marcadores de que o paciente com DRC tem pior prognóstico para perda de função renal ao longo da evolução clínica. Geralmente, estão sob o risco de desenvolver DRC: Já quem tem risco de pior prognóstico são: Além de todos esses fatores que contribuem para o desenvolvimento e pior prognóstico da Doença Renal Crônica, existem muitos outros no app Blackbook. Diagnóstico da DRC: quais os achados na anamnese, nos exames físicos e nos exames complementares? O diagnóstico da doença renal crônica pode ser um desafio para muitos médicos, principalmente no início do desenvolvimento da patologia. Afinal, na maioria dos casos, ela é assintomática nessa fase. Em geral, as manifestações clínicas da DRC surgem em estágios mais avançados da doença, quando os rins se tornam incapazes de manter suas funções. Sinais e sintomas como descontrole pressórico, edema, congestão pulmonar, anemia, acidose e diversas outras complicações, muitas vezes só podem ser observados quando o paciente já não pode mais se beneficiar de controle da doença de base a fim de evitar a progressão da doença renal. Assim sendo, a identificação e abordagem precoce dos casos leves e assintomáticos de doença renal é essencial para a eficácia do tratamento. Como fazer o rastreamento na fase inicial da doença? Uma vez que trata-se de uma doença de início silencioso, é aconselhável realizar, regularmente, a avaliação da creatinina (com estimativa da taxa de filtração glomerular). Também se indica a detecção de proteinúria por meio do teste com fita, especialmente em pacientes com risco elevado. É o caso daqueles com diabetes mellitus, hipertensão arterial, bem como pacientes com histórico pessoal ou familiar de doença renal. E após surgir a sintomatologia de Doença Renal Crônica? Após o surgimento dos sintomas é mais sugestiva a suspeita de Doença Renal Crônica, sendo as manifestações a seguir as principais encontradas durante a anamnese e exame físico do paciente que procura o serviço de saúde. Como confirmar o diagnóstico, de fato? Para identificar pacientes com Doença Renal Crônica, existem recursos diagnósticos como a Taxa de Filtração Glomerular (TFG), análise sumária de urina (EAS) e, idealmente, um exame de imagem. É o caso da ultrassonografia dos rins e das vias urinárias. Sendo assim, vamos avaliar a seguir cada recurso diagnóstico. Taxa de filtração glomerular A fim de avaliar a Taxa de Filtração Glomerular (TFG), o conselho é evitar a utilização da depuração de creatinina medida por meio da coleta de urina durante 24 horas. Isso por causa do potencial de imprecisões na coleta e das dificuldades temporais envolvidas. É mais indicado empregar fórmulas que estimem a TFG com base na creatinina sérica. As principais fórmulas recomendadas para esse cálculo
O que eu gostaria de saber quando me formei em Medicina
Olá! Meu nome é Thais Albuquerque, eu sou médica e psicóloga. Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é falar e compartilhar sobre a importância de fazermos escolhas nas nossas vidas que nos guiem pra satisfação pessoal e profissional. Se você ainda não me conhece, vou te contextualizar. Eu sempre quis ser médica, desde que me entendo por gente, mas o acesso a faculdade de medicina me foi negado por diversas vezes. Depois de 4 anos de tentativas e negativas, acabei optando por um plano B e entrei em psicologia na USP – curso que definitivamente não me traria realização profissional, mas colabora e muito com a profissional que eu sou hoje. Depois de 5 anos de cursinho e 1 ano trabalhando, me vi tentando sobreviver no mercado de trabalho e tentando preencher um vazio que crescia quase exponencialmente. Eu precisava ser médica, nem que eu chegasse na faculdade e percebesse que nada daquilo faria sentido, mas eu precisava tentar de novo. Por isso, eu voltei para os bancos do cursinho, estudei com todo afinco que pude até finalmente ingressar no curso de medicina da faculdade de medicina de São José do Rio Preto, a FAMERP – uma faculdade estadual no interior do Estado de São Paulo. E o que aconteceu quando me formei? Como eu imaginava, a medicina fez todo o sentido que eu buscava. Eu me sentia feliz estudando, indo às aulas, aprendendo, perguntando, entendendo e até sofrendo com milhares de provas, relatórios e trabalhos em grupo. Eu vivi os 6 anos mais desafiadores da minha vida pra finalmente ser quem eu sempre sonhei. Hoje já se passaram quase 3 anos desde que eu me formei e comecei a atuar um pouco como médica e um pouco como psicóloga, afinal de contas não consigo imaginar um atendimento clínico que seja desvinculado de uma escuta terapêutica. Esse tempo já formada tem sido tão desafiador, ou mais, quanto os 6 anos de medicina. Muitas coisas acontecem depois que a gente atravessa o “portal” da medicina e quase ninguém fala sobre elas, talvez porque estragaria um pouco o glamour (do qual eu não concordo) que envolve a figura do profissional médico. A seguir, compartilho 4 coisas que eu gostaria de saber logo que me formei! Vem comigo neste texto preparado com muito carinho e me conta o que você acha, combinado? 1. A rotina é extenuante, sim! Trabalhar com medicina é na maioria das vezes trabalhar exaustivamente, ter rotinas atribuladas, pouco tempo pra viver outras coisas, viver com muitos conflitos internos, muitas cobranças e medos que são pouquíssimos trabalhados durante a graduação. Não, o intuito desse texto não é te desestimular, muito pelo contrário. É ampliar o debate sobre como é a vida sendo médica para além de toda idealização que começamos a criar antes mesmo de entrarmos na faculdade. As pessoas são diferentes, têm limiares diferentes de tolerância em relação ao cansaço e, em outras palavras, o que pode ser considerado por mim uma rotina de cansaço, pra você pode ser uma rotina leve. Aqui a “palavra de ordem” é respeitar o colega e não trazer discursos como “ah, mas, na minha época eu dava plantões de 72 horas e aguentava sem reclamar”. Respeitando os seus limites, que são tão individuais e íntimos, é o que pode fazer a principal diferença na sua relação com a medicina. 2. Apesar das dificuldades, vale muito a pena Hoje eu entendo que o percurso que eu fiz foi exatamente o necessário e acertado pra que eu conseguisse olhar pra minha rotina e pudesse fazer escolhas. E mesmo com todas as dificuldades que eu tive e venho tendo na minha rotina, a medicina sempre está entre elas, porque ela fazia sentido desde que eu me entendi como gente. Eu realmente não sabia como era a realidade e a prática no dia a dia. Talvez se soubesse teria me formado com menos idealizações, com mais pé no chão e com ainda mais certeza de que ser médica é a minha escolha mais acertada de todas. Mas a satisfação alcançada após o reconhecimento do paciente, do elogio vindo da família que se sentiu acolhida e bem cuidada, daquele paciente que você observa sua evolução e melhor a cada consulta. Essa é a medicina que me faz brilhar os olhos. É inegável que, quando eu digo que vale a pena, eu também falo da estabilidade financeira que a medicina proporciona. E é isso que me leva ao terceiro ponto deste texto! 3. Dinheiro é bom, sim, mas, não é tudo! Eu não vou ser hipócrita e dizer que o salário no fim do mês não importa. Mas peço atenção a esse tema. Eu percebo muitos colegas que se formaram, conseguem fazer seus primeiros plantões e recebem os seus primeiros salários e aí que mora o perigo. Durante a graduação da faculdade de medicina, e arrisco a dizer que em nenhuma outra faculdade, nós não temos uma preparação sobre como lidar com o dinheiro. O dinheiro começa a entrar e muitos alunos começam a criar dívidas fazendo uma conta simplista pensando “ah, tudo bem, com 1 ou 2 plantões eu pago isso”. E, não existe nada mais valioso que o nosso tempo. É muito fácil se perder nessas contas e, quando você se dá conta, todos os seus dias, incluindo os finais de semana, estão comprometidos. Você entra num ciclo de precisar fazer cada vez mais plantões médicos para sustentar um estilo de vida que talvez ainda não caiba na sua vida. A gente costuma olhar médicas e médicos de carreira, que já estão com seus 30, 40 anos de formado e tentam alcançar o salário deles. Mais uma vez eu recomendo: respeite o seu tempo, avance gradualmente na sua carreira e com calma. 4. Como conseguir e escolher o primeiro plantão Posso trazer esse assunto com mais detalhes em um novo texto aqui do Blog Blackbook. Mas logo que a gente se forma na faculdade de medicina começam a surgir os grupos de plantões.