A prática centrada no paciente é uma das principais estratégias para aumentar a precisão dos diagnósticos.

Sabemos que a medicina não é uma ciência exata. Afinal, há sempre uma parcela de incerteza sobre os diagnósticos ou quais condutas são mais adequadas para cada caso.

As causas de dificuldades no diagnóstico correto podem estar relacionadas à estrutura de trabalho, ao profissional de saúde ou ao paciente. Já as dúvidas sobre a abordagem podem ser por falta de evidências sólidas ou controvérsias na literatura.

Quanto mais incertezas existem sobre diagnósticos e plano de tratamento, maior a importância de ouvir e considerar a opinião do paciente. Envolvê-lo nestas decisões é uma das bases da prática centrada no paciente.

A importância da prática centrada no paciente

Quando falamos de envolver o paciente nas decisões, isso não significa transferir responsabilidades em suas decisões complexas. Estas continuarão a ser feitas com base no melhor julgamento clínico e na combinação do conhecimento das melhores evidências científicas com a experiência profissional. Mas vão considerar o que o paciente pensa, seus valores, cultura, planos etc.

Saber colocar o paciente no centro do diagnóstico, em um papel colaborativo, é uma das estratégias que tendem a aumentar a precisão dos diagnósticos, a escolha das melhores condutas, a adesão ao tratamento e o nível de satisfação e confiança da pessoa. 

Além disso, essa estratégia valoriza o princípio ético do respeito à autonomia do paciente e melhora a relação profissional-paciente pelo efeito positivo sobre a confiança e transparência de todo o processo.

Mas ao exercer sua autonomia, o paciente pode decidir em deixar que o médico faça as escolhas, por acreditar que elas serão o melhor para ele, mesmo entendendo as incertezas.

Como o paciente pode colaborar para um diagnóstico mais preciso

O paciente que sabe contar bem sua história – ou a da pessoa que ele cuida – tem maior chance de ser ajudado com maior eficácia. Quanto mais completa e precisa a descrição dos sintomas e do histórico de saúde, menor o risco de falhas de diagnóstico e de escolhas inadequadas da melhor opção de tratamento.

Mas vamos além, com algumas dicas para ensinar aos seus pacientes. Dessa forma, eles podem participar e contribuir com seu médico e demais profissionais de saúde para a maior eficácia dos tratamentos e cuidados que recebem.

Detalhamento no histórico de doenças ou problemas de saúde

Antes de procurar cuidados médicos, é importante o paciente ter em mente os detalhes do que o incomoda e procurar organizar as informações. É recomendável anotar os pontos mais relevantes para não esquecer na hora da consulta.

Quando questionado pelo profissional de saúde, pode contar toda a história desde o início dos sintomas, com clareza e objetividade nas informações. Quanto mais precisos os dados, melhor será o diagnóstico.

Caso o paciente pareça confuso sobre algum ponto, o profissional de saúde pode incentivar com algumas dicas ou perguntas dirigidas, mas que não sugiram uma resposta positiva ou negativa.

Dependendo da situação, a melhor dica para o diagnóstico pode ser:

  • Como começaram os sintomas;
  • Como evoluiu;
  • O que parece provocar;
  • O que parece aliviar;
  • A que o paciente atribui ou o que tem medo de ser;
  • Se já teve algo parecido antes, entre outras.

Apontamento dos fatores de risco e problemas

Também é importante o paciente mencionar outras doenças já diagnosticadas, seja as crônicas e ainda em tratamento, seja os problemas de saúde já resolvidos. Ademais, informar internações e cirurgias, alergias, histórico com tabagismo (carga tabágica), dificuldade de perder peso, frequência de atividades físicas e exercícios, histórico familiar de doenças genéticas etc.

Lista de medicamentos

Esse relato deve ser feito não só para o médico, mas também para o enfermeiro e o farmacêutico, sempre que possível. Deve incluir o nome dos medicamentos (princípio ativo ou marca) usados atualmente, doses, horários, há quanto tempo usa, quem prescreveu e para quê. A lista completa deve ter ainda os tratamentos antigos e que já foram suspensos.

Outro ponto importante é explicar dificuldades financeiras para comprar ou obter medicamentos, caso existam. O profissional de saúde pode ajudar optando por tratamentos de menor custo, ensinar como obter a medicação de graça pelo SUS ou por valores mais em conta, como nos programas do tipo Farmácia Popular, segurança dos genéricos para a situação específica etc.

Organização das informações

Manter uma pasta de exames e anotações é uma prática bastante recomendada. Os exames devem ser organizados por data, com notas ou grifos sobre o que foi considerado anormal. Para que seja possível recuperar resultados e imagens originais on-line, guardar senhas de recuperação de exames nos laboratórios ou serviço em que foram realizados.

Atualmente, os melhores hospitais têm dado acesso digital ao paciente (com login e senha) de todos os exames e dados obtidos durante as internações.

Também é interessante alimentar uma planilha com resultados de exames de seguimento ou de rotina de acompanhamento de saúde, como glicose, colesterol e frações, hemograma, função renal, função hepática, eletrólitos, hormônios, coagulação etc. Também os de triagem, como mamografia, Papanicolau, PSA, endoscopia baixa e outros.

Essa planilha também pode conter gráficos ou lista estruturada da evolução de doenças crônicas, caso haja (por exemplo, asma, pressão alta, depressão etc.). Além disso, datas de diagnósticos, períodos de melhora e piora, complicações, respostas ao tratamento, internações etc.

Conhecimento pelo paciente sobre sua doença e tratamento

Sabemos que conhecimento é uma ferramenta importante para as tomadas de decisões do médico. Mas também é essencial para o paciente organizar seu autocuidado e melhorar a adesão ao tratamento. 

Forneça textos e links de pesquisa e estimule o paciente a buscar informações em fontes confiáveis (preferencialmente, recomendadas pelo Ministério da Saúde ou SUS) sobre sua doença, tratamentos disponíveis e formas de autocuidado.

Hospitais de renome, universidades e associações oficiais de especialistas também costumam ser fontes seguras para obter informações. Evitar ao máximo fontes sem compromisso científico, de procedência duvidosa ou com conflitos de interesses (que estejam vendendo soluções ou tratamentos).

Ademais, incentive o paciente a conhecer o tratamento. Muitas doenças são crônicas e têm controle, mas não a cura definitiva, sendo importante saber cada vez mais como fazer esse controle, tendo claro o objetivo e metas do tratamento. Também entender bem, pesquisar e perguntar, sobre o que deve esperar da evolução da doença com ou sem esse tratamento proposto.

Nesse ponto, o profissional da saúde pode contribuir com outras orientações importantes além do tratamento medicamentoso. Por exemplo, incentivo a praticar atividades físicas, a melhorar a alimentação, a perder excesso de peso, a fazer psicoterapia, como parar de fumar ou beber, participar de grupos de apoio, entre outros.

Além disso, falar sobre sinais de alarme de piora e de alerta de emergência – informações que o paciente pode até anotar para não esquecer. Essa prática ajuda a se preparar para possíveis complicações, seja com ele, seja com a pessoa de quem está cuidando.

Solucionar suas dúvidas durante o atendimento

Muitas vezes, o paciente sai da consulta sem entender qual é seu diagnóstico, além dos níveis de certeza ou incerteza. É sempre importante perguntar sobre, além do diagnóstico apresentado, e o que mais poderia ser. Havendo dúvidas, pedir mais explicações até se sentir satisfeito.

Na prática centrada no paciente, é bom quando ele questiona sobre a real necessidade de determinados exames ou tratamentos e entende como os procedimentos serão realizados e os potenciais riscos.

O paciente, por vergonha ou respeito, tende a evitar questionamentos mesmo quando nota erro na prescrição – medicamentos suspensos, doses ajustadas previamente etc.

Como profissionais de saúde, é essencial darmos abertura para que o paciente se sinta seguro para fazer essas perguntas e questionamentos, inclusive elogiando essa postura.

Compartilhar decisões não significa transferir responsabilidades. Essa é uma das estratégias da prática centrada no paciente que ajuda a aumentar a adesão ao tratamento, entre outros benefícios.

Compartilhando decisões com pacientes

Como vimos, o papel do profissional da saúde é essencial na prática centrada no paciente, sobretudo no compartilhamento de decisões.

Há informações que todo médico pode compartilhar com seus pacientes. Ou seja, deixar evidente os níveis de incerteza existentes, explicar a eficácia de determinados exames e testes ou mesmo falar sobre custo-benefício e risco-benefício do tratamento em questão.

Para alcançar esse objetivo, é importante explicar da forma mais compreensível cada ponto do diagnóstico, evitando jargões técnicos e siglas próprias da profissão. Sempre que possível, usar exemplos e analogias que facilitem a compreensão. Lembre-se de que a forma como conversamos com nossos colegas nem sempre será acessível para o paciente.

Após as explicações, procure ouvir, perguntar e considerar a opinião do paciente sobre o tratamento proposto. Não se espera, é claro, que ele saiba discutir os níveis de complexidade e as melhores abordagens. Mas ele pode falar sobre seus desejos e crenças do jeito que acredita ser melhor para sua saúde, dando pistas de alternativas que obteriam melhor adesão e sucesso terapêutico.

Há casos em que será necessário dar um tempo ao paciente para reflexão. Afinal, ele tem o direito de pensar, conversar com familiares ou até mesmo com outros profissionais de saúde, pesquisar.

Sempre poderá se arrepender da decisão e mudar de ideia. Nesses casos, uma sequência de consultas para tirar dúvidas, ouvir o paciente, melhorar a relação com ele ou repetir alguns exames bem selecionados pode ajudar no convencimento e na busca da melhor conduta para aquele paciente específico.

A equipe multidisciplinar e a prática centrada no paciente

Idealmente, cada paciente deve ter um médico para ser referência no acompanhamento de seus problemas de saúde.

Mas o que acontece comumente é buscar cuidados apenas quando está doente, sendo atendido por profissionais diferentes de salas de emergência ou de especialidades distintas. Isso produz uma atenção de saúde confusa e fragmentada, com alto risco para o paciente.

O médico de referência é que deve, quando precisar, indicar consultores e especialistas para aumentar a precisão dos diagnósticos e definição dos tratamentos e cuidados. 

Quanto mais complexas, graves e múltiplas são as doenças, comorbidades e problemas de saúde associados, mais importante é que o compartilhamento de cuidados por uma equipe multidisciplinar.

Esta deve trabalhar junta em sistema de referência e contrarreferência. Ou seja, um indica o outro com uma demanda específica e o outro comunica com quem encaminhou (por meio de uma conversa, cartas ou relatórios) o que encontrou, diagnosticou, orientou ou prescreveu.