Olá! Meu nome é Thais Albuquerque, eu sou médica e psicóloga. Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é falar e compartilhar sobre a importância de fazermos escolhas nas nossas vidas que nos guiem pra satisfação pessoal e profissional.
Se você ainda não me conhece, vou te contextualizar. Eu sempre quis ser médica, desde que me entendo por gente, mas o acesso a faculdade de medicina me foi negado por diversas vezes. Depois de 4 anos de tentativas e negativas, acabei optando por um plano B e entrei em psicologia na USP – curso que definitivamente não me traria realização profissional, mas colabora e muito com a profissional que eu sou hoje.
Depois de 5 anos de cursinho e 1 ano trabalhando, me vi tentando sobreviver no mercado de trabalho e tentando preencher um vazio que crescia quase exponencialmente. Eu precisava ser médica, nem que eu chegasse na faculdade e percebesse que nada daquilo faria sentido, mas eu precisava tentar de novo.
Por isso, eu voltei para os bancos do cursinho, estudei com todo afinco que pude até finalmente ingressar no curso de medicina da faculdade de medicina de São José do Rio Preto, a FAMERP – uma faculdade estadual no interior do Estado de São Paulo.
E o que aconteceu quando me formei?
Como eu imaginava, a medicina fez todo o sentido que eu buscava. Eu me sentia feliz estudando, indo às aulas, aprendendo, perguntando, entendendo e até sofrendo com milhares de provas, relatórios e trabalhos em grupo. Eu vivi os 6 anos mais desafiadores da minha vida pra finalmente ser quem eu sempre sonhei.
Hoje já se passaram quase 3 anos desde que eu me formei e comecei a atuar um pouco como médica e um pouco como psicóloga, afinal de contas não consigo imaginar um atendimento clínico que seja desvinculado de uma escuta terapêutica. Esse tempo já formada tem sido tão desafiador, ou mais, quanto os 6 anos de medicina.
Muitas coisas acontecem depois que a gente atravessa o “portal” da medicina e quase ninguém fala sobre elas, talvez porque estragaria um pouco o glamour (do qual eu não concordo) que envolve a figura do profissional médico.
A seguir, compartilho 4 coisas que eu gostaria de saber logo que me formei! Vem comigo neste texto preparado com muito carinho e me conta o que você acha, combinado?
1. A rotina é extenuante, sim!
Trabalhar com medicina é na maioria das vezes trabalhar exaustivamente, ter rotinas atribuladas, pouco tempo pra viver outras coisas, viver com muitos conflitos internos, muitas cobranças e medos que são pouquíssimos trabalhados durante a graduação.
Não, o intuito desse texto não é te desestimular, muito pelo contrário. É ampliar o debate sobre como é a vida sendo médica para além de toda idealização que começamos a criar antes mesmo de entrarmos na faculdade.
As pessoas são diferentes, têm limiares diferentes de tolerância em relação ao cansaço e, em outras palavras, o que pode ser considerado por mim uma rotina de cansaço, pra você pode ser uma rotina leve.
Aqui a “palavra de ordem” é respeitar o colega e não trazer discursos como “ah, mas, na minha época eu dava plantões de 72 horas e aguentava sem reclamar”. Respeitando os seus limites, que são tão individuais e íntimos, é o que pode fazer a principal diferença na sua relação com a medicina.
2. Apesar das dificuldades, vale muito a pena
Hoje eu entendo que o percurso que eu fiz foi exatamente o necessário e acertado pra que eu conseguisse olhar pra minha rotina e pudesse fazer escolhas. E mesmo com todas as dificuldades que eu tive e venho tendo na minha rotina, a medicina sempre está entre elas, porque ela fazia sentido desde que eu me entendi como gente.
Eu realmente não sabia como era a realidade e a prática no dia a dia. Talvez se soubesse teria me formado com menos idealizações, com mais pé no chão e com ainda mais certeza de que ser médica é a minha escolha mais acertada de todas.
Mas a satisfação alcançada após o reconhecimento do paciente, do elogio vindo da família que se sentiu acolhida e bem cuidada, daquele paciente que você observa sua evolução e melhor a cada consulta. Essa é a medicina que me faz brilhar os olhos.
É inegável que, quando eu digo que vale a pena, eu também falo da estabilidade financeira que a medicina proporciona. E é isso que me leva ao terceiro ponto deste texto!
3. Dinheiro é bom, sim, mas, não é tudo!
Eu não vou ser hipócrita e dizer que o salário no fim do mês não importa. Mas peço atenção a esse tema. Eu percebo muitos colegas que se formaram, conseguem fazer seus primeiros plantões e recebem os seus primeiros salários e aí que mora o perigo.
Durante a graduação da faculdade de medicina, e arrisco a dizer que em nenhuma outra faculdade, nós não temos uma preparação sobre como lidar com o dinheiro.
O dinheiro começa a entrar e muitos alunos começam a criar dívidas fazendo uma conta simplista pensando “ah, tudo bem, com 1 ou 2 plantões eu pago isso”. E, não existe nada mais valioso que o nosso tempo.
É muito fácil se perder nessas contas e, quando você se dá conta, todos os seus dias, incluindo os finais de semana, estão comprometidos. Você entra num ciclo de precisar fazer cada vez mais plantões médicos para sustentar um estilo de vida que talvez ainda não caiba na sua vida.
A gente costuma olhar médicas e médicos de carreira, que já estão com seus 30, 40 anos de formado e tentam alcançar o salário deles. Mais uma vez eu recomendo: respeite o seu tempo, avance gradualmente na sua carreira e com calma.
4. Como conseguir e escolher o primeiro plantão
Posso trazer esse assunto com mais detalhes em um novo texto aqui do Blog Blackbook. Mas logo que a gente se forma na faculdade de medicina começam a surgir os grupos de plantões.
Provavelmente o mesmo grupo de WhatsApp que sua turma usou durante a graduação vai virar um grupo de oportunidades dos primeiros plantões. É uma colega que chama pra acompanhar no plantão ou pra passar um plantão que não vai conseguir fazer.
Logo que me formei, eu voltei pra minha cidade natal, São Paulo. E antes de entrar no meu trabalho de carteira assinada, eu também fiz os meus primeiros plantões. Busquei primeiro um plantão de shopping, por conta da baixa complexidade dos casos.
Ah, e muito importante: não confunda baixa complexidade com baixa responsabilidade. Qualquer pessoa que necessite de cuidados médicos deve ser respeitada e tratada com o melhor atendimento e cuidado necessário.
Na medida em que fui pegando um pouco mais de confiança depois que me formei, comecei a buscar outros plantões, como médica de remoção em ambulância. Mas isso é papo para outra hora!
Convido você que leu até aqui a compartilhar este texto com seus colegas que também precisam saber dessas dicas! Não quero ninguém passando perrengue desnecessário, combinado?
Formada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), em 2012 e em Medicina pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), em 2020. Trabalha nas redes sociais desde 2015, compartilhando seus anseios e suas experiências com a medicina desde então.