Infecções bacterianas - Blackbook

As infecções bacterianas são uma causa importante de mortalidade e podem ou não se apresentar como sepse – a forma mais grave de infecção, associada a disfunções orgânicas medidas pelo escore SOFA, com potencial evolução para choque e falência de múltiplos órgãos, com alta mortalidade. 

Desde a sua descoberta, os antimicrobianos têm sido responsáveis pelo salvamento de milhões de vidas. Entretanto, o uso excessivo e indiscriminado dessas drogas acarreta maiores custos de tratamento, incidência elevada de efeitos adversos e, o mais grave, indução crescente de resistência bacteriana. 

Na maior parte dos casos, a escolha do antibiótico é inicialmente empírica. Contudo, precisa ser judiciosa, baseada na suspeita clínica, no provável foco de infecção, nos agentes etiológicos mais prováveis.

Além disso, deve avaliar as particularidades do paciente, como idade, comorbidades, história de internação recente e uso prévio de antimicrobianos.

Neste conteúdo, você verá um resumo da rotina sobre infecções bacterianas e antibioticoterapia. Confira!

Sinais e sintomas das infecções bacterianas

Apesar de inespecífica, a febre é o sinal mais sensível de infecções em geral, tanto nas de origem virótica, como fúngicas ou bacterianas. Entretanto, ela também ocorre em condições não infecciosas, como colagenoses, leucemias, linfomas, vasculites, insolação, doenças metabólicas e degenerativas, tromboembolismo, febre de origem central e reação medicamentosa ou a transfusões. 

Além da febre, é importante investigar sintomas específicos ou sugestivos de determinados focos infecciosos, como disúria ou dor lombar para infecção urinária, tosse produtiva, dispnéia e prostração na pneumonia, cefaleia e vômitos na meningite, etc.

Importante ressaltar que a ausência dessas manifestações não afasta o acometimento de um ou outro foco, notadamente em pacientes debilitados ou imunocomprometidos, nos quais o quadro clínico pode ser mais inespecífico.

Diagnóstico

A investigação laboratorial das infecções é feita com exames que possam confirmar ou sugerir a presença de infecção. Além disso, permitem avaliação geral do paciente e detecção de eventuais disfunções orgânicas secundárias.

Os exames complementares também auxiliam a:

  • Distinguir entre infecções bacterianas ou virais;
  • Avaliar a intensidade da resposta inflamatória;
  • Pesquisar complicações;
  • Acompanhar a evolução e a resposta ao tratamento antiinfeccioso. 

Entre os exames mais úteis, destacam-se o hemograma (leucocitose ou leucopenia, neutrofilia, desvio à esquerda, plaquetopenia, etc.), a dosagem de proteína C reativa, procalcitonina e lactato arterial, gasometria arterial, perfil bioquímico hepático (notadamente bilirrubinas), função renal  e coagulograma.

As culturas são fundamentais para identificação correta do agente etiológico, análise do seu perfil de sensibilidade e resistência aos antimicrobianos. Porém, geralmente, só ficam disponíveis em um segundo momento para ajustar o tratamento.

Devem ser coletadas idealmente antes do início do tratamento em todos os pacientes com sepse e naqueles com infecções relacionadas à assistência de saúde. Nos demais casos, a decisão sobre coleta de culturas deve ser individualizada, com base inclusive na expectativa de rendimento (sensibilidade) desses exames.

Exames moleculares automatizados são capazes de identificar o genoma ou marcadores específicos do agente etiológico em poucas horas. Eles vêm se tornando cada vez mais disponíveis, aumentando a adequação da escolha e eficácia do tratamento.

Antibioticoterapia

Na sepse em geral e, sobretudo, no choque séptico, o início precoce da antibioticoterapia empírica correta ainda na primeira hora é um fator importante de redução da mortalidade. Ajustes são feitos posteriormente com a identificação do foco infeccioso ou identificação do agente etiológico.

A evolução e resposta clínica do paciente ao tratamento são o parâmetro mais importante na decisão de manter, descalonar, escalonar ou trocar o esquema de antimicrobiano. Mas culturas e alguns exames de laboratório podem ajudar nessa decisão.

Nas situações mais complexas, com pacientes mais vulneráveis, imunodeprimidos ou refratários ao tratamento, é sempre aconselhável a discussão do caso com um infectologista experiente.

Na infecção relacionada à assistência de saúde, as decisões devem considerar a epidemiologia microbiológica local e o padrão de susceptibilidade bacteriana aos antibióticos, contextualizados às características do paciente e ao foco mais provável de infecção.

Em imunossuprimidos (pacientes oncológicos em quimioterapia, transplantados, colagenoses graves e neutropênicos), as infecções tendem a evoluir de forma rápida e potencialmente fatal. Por isso, o início da antibioticoterapia precisa ser mais precoce e com cobertura de amplo espectro, de acordo com protocolos específicos.

Foto: É essencial iniciar a antibioticoterapia o mais rápido possível, definida a partir das particularidades do paciente.

As principais infecções bacterianas

Nesta rotina, você vai encontrar informações essenciais para a escolha empírica do antimicrobiano pelo sítio de infecção, como etiologias principais e indicações de esquemas terapêuticos principal e alternativo.

  • Abscesso cerebral:
    • Primário ou de origem dental, oral ou pulmonar
    • De origem cardíaca
    • Trauma aberto ou cirurgia
  • Abscesso hepático (associação com infecção biliar ou pélvica)
  • Abscesso renal e perirrenal
  • Abscesso de pele, celulite e erisipela:
    • Abscesso de pele
    • Celulite e erisipela
    • Facial
    • Periorbital
    • Erisipela no diabético
    • Erisipela no não diabético
    • Fasciíte necrotizante
  • Acne (acne vulgaris)
  • Amigdalites e faringites bacterianas
  • Artrite séptica:
    • Monoarticular com risco de DST
    • Poliarticular
    • Após punção ou artroscopia
    • Em prótese articular
  • Bronquites e exacerbações de DPOC
  • Colangite, colecistite (infecção biliar com ou sem obstrução)
  • Conjuntivites bacterianas
  • Diarreias aguda inflamatórias
  • Diverticulite (com ou sem abscesso perirretal)
  • Doenças sexualmente transmissíveis:
    • Cancro mole
    • Uretrite ou cervicite não gonocócicas
    • Gonorreia genital, retal ou faríngea sem disseminação
    • Gonorreia com artrite, dermatite ou disseminada
    • Candidíase genital
    • Granuloma inguinal (donovanose)
    • Sífilis primária (cancro duro, úlcera, linfadenite)
    • Sífilis secundária e latente com até 1 ano de evolução
    • Sífilis latente com mais de 1 ano
    • Neurossífilis
  • Endocardite:
    • Válvula nativa, com cardiopatia congênita ou valvar
    • Prótese valvar
  • Ferida infectada:
    • Traumática ou de cirurgia limpa (não gastrointestinal nem genitourinária)
    • Cirurgia do intestino, esôfago, otorrinolaringológica ou genitourinária
  • Infecção secundária em queimaduras:
    • Inicial
    • Queimadura infectada
  • Infecções ginecológicas:
    • Vaginose bacteriana (corrimento abundante com odor fétido)
    • Doença inflamatória pélvica
  • Mastite:
    • Pós parto, com ou sem abscesso
    • Não puerperal
  • Meningite:
    • Crianças e adultos até 50 anos
    • Adultos acima de 50 anos, alcoólatras, imunossupressão celular e doenças debilitantes
    • Pós trauma ou neurocirurgia
    • Meningite / ventriculite por DVP (shunt)
    • Crônica (sintomas e pleocitose por > 4 semanas)
  • Miosite:
    • Piomiosite
    • Gangrena gasosa
  • Osteomielite:
    • Hematogênica, por contiguidade, após fixação interna de fratura ou outro foco
    • De extremidades na insuficiência vascular, diabetes mal controlado ou neuropatia
    • Crônica
  • Otite:
    • Otite média aguda em crianças
    • Otite média aguda em adultos
    • Otite externa do nadador
    • Otite externa maligna (diabetes, AIDS)
    • Otite externa crônica
  • Pericardite aguda purulenta
  • Peritonite:
    •  Primária espontânea (cirróticos, nefróticos)
    • Por perfuração: apendicite, diverticulite, ruptura intestinal
  • Pneumonias
  • Prostatite:
    • Aguda
    • Crônica
  • Sepse:
    • Sepse grave ou choque séptico
    • Com foco pulmonar
    • Com foco abdominal
    • Com foco biliar
    • Com foco urinário
    • Relacionada a cateter central
    • No neutropênico febril
    • No usuário de drogas injetáveis
    • Esplenectomizados
    • Com rash petequial ou púrpura
  • Sinusite bacteriana

Este foi um resumo com os pontos principais da rotina sobre infecções bacterianas e antibioticoterapia. No app Blackbook, o conteúdo completo para assinantes reúne informações sobre conceitos gerais, quadro clínico das infecções, formas de confirmar a doença e indicações de tratamento.

Quer ter acesso a essas e outras rotinas para auxiliar a tomada de decisão clínica? Baixe o app Blackbook agora mesmo!