Mutações e deleções que alteram o código genético dos vírus circulantes são esperadas em quaisquer viroses, sendo mais frequentes quanto maior a prevalência e circulação do vírus. O vírus SARS-CoV-2 tem uma grande propensão a produzir mutações.
Nesse cenário, tendem a predominar em determinado momento aquelas variantes e subvariantes com características de maior transmissividade, contagiosidade e capacidade de escapar dos anticorpos que a população já possui por efeito das vacinas ou de infecções prévias.
Após quase 3 anos de pandemia, o vírus da COVID-19 se comporta cada vez mais como o vírus da influenza – que a cada ano e em cada área do planeta apresenta uma maior prevalência de determinadas subvariantes. Com isso, exige uma mudança anual das vacinas para gripe para que elas continuem eficientes.
Depois da maior onda de casos, internações e óbitos no Brasil causados pela variante Gama (janeiro e abril de 2022) e a grande onda de casos com menor gravidade provocados pela variante Omicron original (maio e agosto), passamos por uma fase com recordes de redução de casos. Isso levou a população a relaxar em relação às medidas preventivas, esperando um possível fim da pandemia.
Nos últimos meses, surgiram pelo mundo diversas subvariantes da Omicron que provocaram aumentos significativos do número de casos em diversos países. Entre essas, a subvariante BQ.1 foi a mais importante na Europa e na América do Norte. Em novembro, começou a provocar um aumento da positividade dos exames em vários estados brasileiros.
Neste conteúdo, abordamos os impactos da subvariante BQ.1 e as principais orientações de enfrentamento da nova onda. Acompanhe!
O impacto esperado da subvariante BQ.1
Considerando o que aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, a variante BQ.1 tende a aumentar bastante o número de casos leves e moderados. Isso causa um impacto importante sobre o sistema ambulatorial e de pronto atendimento em salas de emergência. Porém, bem menor que o observado com as variantes anteriores em relação ao número de internações (tanto em enfermarias como UTIs) e de óbitos.
Como a cobertura vacinal no Brasil está atualmente em nível parecido com a desses países desenvolvidos, é bem provável que teremos também uma recrudescência de casos leves e moderados em uma “nova onda” que vai durar cerca de seis semanas. Contudo, há possibilidades de ser mais intensa ou se prolongar mais pelo maior contato entre pessoas durante a Copa do Mundo e os festejos do Natal e fim de ano.
Veja abaixo porque é tão importante orientar e convencer seus pacientes a retomar os cuidados preventivos para reduzir ao máximo o risco de ter a doença – seja pela primeira vez, seja por uma ou mais reinfecções.
Como orientar as pessoas sobre esta nova onda pela subvariante BQ.1
É muito importante lembrar às pessoas que, apesar de menos grave, a infecção causada pelas novas variantes ainda traz um risco significativo de o paciente precisar de terapia intensiva ou mesmo morrer.
O risco de morrer por COVID-19 no Brasil no último ano é três vezes maior (cerca de 75 mil óbitos) que o de morrer por influenza (cerca de 25 mil óbitos). Em ambos os casos, a maioria desses óbitos pode ser evitada com a vacinação.
Além disso, reinfecções por COVID-19 também aumentam o risco de complicações e sequelas prolongadas pulmonares, cardíacas, neuropsiquiátricas (incluindo fadiga crônica intensa), renais, gastrointestinais, musculoesqueléticas e de desenvolver tromboses ou diabetes.
As principais recomendações são sobre voltar a usar máscara em situações de maior risco e garantir que todos da família e pessoas próximas tenham recebido todas as doses da vacina disponível para o respectivo grupo de idade.
Situações em que é muito importante voltar a usar máscara de forma cuidadosa:
- Em ambientes fechados, como trabalho, escola, transporte coletivo, estabelecimentos de saúde, igrejas e templos;
- Em reuniões de muitas pessoas e em qualquer tipo de aglomeração, mesmo se em áreas abertas;
- Mesmo dentro de casa, se tiver febre ou qualquer sintoma gripal ou se teve contato próximo na última semana com alguém que testou positivo;
- Se chegar próximo ou no mesmo ambiente que uma pessoa com imunidade mais baixa, como idosos com mais de 70 anos, pessoas em uso medicamentos imunodepressores ou com comorbidades graves.
Também vale orientar o paciente a fazer o teste rápido de antígeno (autoteste, “teste de farmácia”, na rede pública ou laboratórios comerciais) diante de qualquer sintoma gripal ou respiratório (incluindo febre, tosse, coriza, dor de garganta).
Se der positivo, ele deve iniciar o isolamento e a vigilância de sintomas de alarme (que justificariam procurar uma sala de emergência). Além disso, é recomendado comunicar aos contatos próximos recentes para que passem a usar máscara e vigiem o aparecimento de sintomas (ou façam o teste por volta do terceiro ao quinto dia).
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A importância das quatro doses da vacina
Cada dose da vacina até a quarta dose reduz de forma significativa a gravidade da doença, o risco de hospitalização e de morrer por COVID-19. O primeiro reforço reduz em cerca de 50% esses riscos. O segundo, feito pelo menos 4 meses após o primeiro, tem um impacto protetor significativo, mas menor.
Por enquanto, não há dados suficientes para indicar uma quinta dose. Provavelmente, quando isso acontecer, ela será feita com uma nova geração de vacinas já dirigidas contra as variantes e subvariantes da Omicron ou outras novas variantes de preocupação que surgirem.
É um desafio grande convencer uma pessoa “antivacina” que ainda não tomou nenhuma dose a se vacinar. Mas existem milhões de pessoas que tomaram as duas primeiras doses e que ainda não tomaram os reforços e precisam ser estimuladas a fazer isso imediatamente.
Para a quarta dose, basta ter feito a terceira (primeiro reforço) há mais de 4 meses e ter mais de 18 anos. Em cada cidade a idade mínima em que a quarta dose da vacina está sendo aplicada varia de acordo com a disponibilidade de vacinas e pode ainda estar em 20, 30 ou 40 anos.
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(M.D.; M.Sc.; Ph.D.)
Editor chefe de conteúdo do Blackbook
Professor aposentado da FM da UFMG
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