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O que me motiva e o que me fez querer a medicina?

O que me motiva e o que me fez querer a medicina? Difícil citar um único motivo. O que eu sinto é muito maior que isso…transborda tanto que fica complicado de colocar em palavras. Eu sou daquelas que falam que quer ser médica desde pequena, desde que me entendo por gente. Meu avô e meu tio são médicos e é impossível não reconhecer que eles exerceram uma influência significativa na consolidação desse sonho.  Quando eu era criança, meu avô chegava do plantão contando vários casos e adorava ouvi-los. Aliás, meu avô é um dos médicos mais humanos que eu já conheci! Estou pra ver outro que nem ele, acho que dele veio também o meu coração comunitário e a minha vontade de salvar o mundo. Com o passar dos anos, esse sonho foi ficando cada vez mais forte. Não me via fazendo outra coisa, nenhuma profissão me encantava como a medicina. Queria fazer medicina sem fronteiras, ajudar a África, contribuir para a formação de um mundo melhor e mais justo, sem dores, sem sofrimento. Isso tudo há 10 anos atrás… Mas hoje, mais madura (pra não dizer mais velha), eu vejo que é muito utópico pensar que como médica eu poderia salvar ou mudar o mundo que eu vivo.  Vejo também que as pessoas em sofrimento estão muito mais perto de mim e eu não preciso ir até o continente africano pra ajudar e acolher. Muitos dos meus pacientes são meus amigos, meus parentes e principalmente os moradores da  comunidade que eu trabalho. O que hoje me movimenta é a certeza de que talvez eu não possa mesmo mudar o mundo, mas eu posso dar conforto para aqueles que eu conseguir alcançar. Hoje eu vejo que a medicina é feita com o olhar, com a escuta. Muitas vezes o sintoma é a pontinha do iceberg de uma existência complexa que precisa de atenção e cuidado e isso eu faço com todo meu amor e respeito. Meu forte é dar colo, meu forte é amar. Esse amor eu tenho de sobra e talvez seja ele o principal motivo por ter escolhido a medicina: eu preciso transbordar o que eu sinto pelo Outro e a melhor forma de fazer isso é cuidar! 💜 Leia também: Thais AlbuquerqueFormada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), em 2012 e em Medicina pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), em 2020. Trabalha nas redes sociais desde 2015, compartilhando seus anseios e suas experiências com a medicina desde então.

Novas diretrizes do CFM para médicos: uma atualização importante

Novas diretrizes do CFM para médicos - Blackbook

Você deve ter visto recentemente que o Conselho Federal de Medicina, após 3 anos de consulta pública, finalmente liberou a Resolução CFM nº 2.336/2023, que dispõe sobre publicidade e propagandas médicas. Se você é recém-formado ou ainda vai ingressar na medicina, vale a pena conferir os detalhes para entender o que pode e o que não pode ser feito a partir dela. A nova resolução revoga a Resolução CFM nº 1.974/2011 no prazo de 180 dias, ou seja, começa a valer a partir de março de 2024. Foram quase 3 anos após inúmeras discussões, consultas públicas e escuta em relação às demandas vindas dos próprios profissionais médicos que se sentiam limitados em relação à publicidade e propaganda nos meios digitais. Estas atualizações representam um marco significativo na profissão médica, afetando diretamente a prática clínica e a sua inserção no mundo digital, além de impactar a relação médico-paciente. A seguir, falo um pouco sobre as novas diretrizes do CFM e o que mudou para nós no dia a dia com as redes sociais, sobretudo. O que mudou com as novas diretrizes do CFM para médicos? Entre as principais mudanças, estão as seguintes! Autorização para antes e depois Você já deve ter visto médicos nas redes sociais postando imagens de antes e depois e talvez você nem soubesse que na verdade esse ato era vedado ao médico até então. As novas diretrizes do CFM finalmente autorizam a divulgação de resultados estéticos com uso de imagens previamente autorizado pelos pacientes. Fotos, selfies e vídeos próprios Por mais estranho que isso possa soar, até a instituição da nova resolução, o médico não podia fazer fotos no seu local de trabalho. Agora profissionais também podem fazer imagens e vídeos apresentando os equipamentos e tecnologias que utilizam, mas utilizando portfólio de produtos aprovado pela Anvisa e autorizados pelo CFM.  Fica autorizado também a divulgação de vídeos de procedimentos desde que autorizado pelo paciente e respeitando os critérios éticos envolvidos. Fotos com pacientes e elogios recebidos Sim, antes não era permitido postar fotos com pacientes, mesmo com autorização prévia, nem mesmo divulgar elogios recebidos nas redes sociais. A nova resolução do CFM em 2023 permite a divulgação de elogios recebidos de pacientes, ou mesmo celebridades que ele tenha tratado. A partir de agora também fica permitido divulgar os valores das consultas e possíveis formas de pagamento. Divulgação de produtos e medicamentos A resolução mantém a proibição em relação a divulgação de medicamentos ou associação de vínculo do profissional com a indústria farmacêutica. Essas novas diretrizes do CFM passam a existir para promover uma prática médica ética, moderna e responsável. É essencial que os vestibulandos de medicina e médicos recém-formados estejam cientes dessas mudanças e as incorporem em suas práticas profissionais desde cedo. Elas representam uma oportunidade para melhorar a qualidade dos cuidados de saúde no Brasil e fortalecer a confiança entre médicos e pacientes. Claro que nesse texto não vamos abordar todas as mudanças da nova resolução, enquanto médica e influenciadora digital, optei por destacar os principais pontos relacionados justamente com a era das redes sociais na qual vivemos submersos. Mas, afinal, o que tem de novo em tudo isso? Neste momento você deve estar se perguntando: “Tá, mas eu já vi tudo isso nas redes sociais antes mesmo da divulgação das novas resoluções”. Sim, eu também. Cansei de ver fotos de antes e depois, vídeos de cirurgias e fotos de pacientes nas redes. O grande ponto é que antes não era autorizado, não havia respaldo para esse tipo de prática e o profissional era passível de punição. E em uma era em que a comunicação e os encontros sociais acontecem quase 100% no mundo virtual, reavaliar a comunicação médica nos meios digitais era urgente e necessária. Os tempos mudaram e com isso novas práticas médicas precisam ser reconfiguradas. A resolução reconhece a crescente influência das redes sociais na disseminação de informações médicas. Também avalia o potencial que elas têm de democratizar o acesso a conhecimentos médicos e promover a conscientização sobre questões de saúde pública. A capacidade de médicos de compartilhar informações responsáveis e embasadas cientificamente nas redes sociais é uma oportunidade para promover a educação em saúde e combater a desinformação, se bem utilizada. O que não muda e não deverá mudar nunca é o respeito, a ética e o bem-estar do paciente. Este último deverá vir acima de qualquer outra autopromoção nas redes sociais. Mas aí já é papo pra outro texto. Me conta o que você achou das mudanças que eu vou adorar saber. E aproveita para conferir o meu último conteúdo publicado sobre o que não me contaram a respeito do internato! Um beijo e até a próxima. Thais AlbuquerqueFormada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), em 2012 e em Medicina pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), em 2020. Trabalha nas redes sociais desde 2015, compartilhando seus anseios e suas experiências com a medicina desde então.

Abordagem da obesidade infantil: um tema essencial na medicina moderna

Abordagem humanizada da obesidade infantil

A obesidade é um dos assuntos mais importantes da medicina moderna, não só da pediatria. Independentemente da área médica em que você atua, não será mais uma opção não atender pacientes com excesso de peso. Estamos vivendo uma epidemia.  O número de crianças com obesidade só cresce. Em 2016, tínhamos uma prevalência de obesidade de 17,6% em meninos entre 5 e 9 anos de idade. A projeção é que em 2030 essa prevalência nesta faixa etária suba para 22,8%. Serão mais de 7 milhões de crianças com obesidade no Brasil entre 5 e 19 anos em 2030 (dados da World Obesity de 2019). Em adultos não é diferente. Pelos números crescentes, estima-se que mais de 40% da população adulta terá obesidade em 2035. Sem contar com os adultos com sobrepeso, quadro menos grave que a obesidade.  É importante termos conhecimento desses números até para conseguirmos avaliar o impacto de qualquer intervenção. Sem intervenções substanciais para prevenir e tratar a obesidade infantil, o número de crianças em idade escolar e adolescentes que vivem com obesidade deverá aumentar cada vez mais, com todas as suas consequências.  Qual a explicação para esse aumento acentuado?  Os índices de obesidade vêm aumentando desde o final da década de 70, início dos anos 80, no mundo todo.  O que aconteceu desde então? Uma tendência a ficarmos cada vez mais sedentários e uma piora do nosso padrão alimentar, com um maior consumo de alimentos ultraprocessados.  Houve uma modificação no ambiente, enquanto nossa biologia permanece a mesma.  Há milhares de anos, tínhamos escassez de comida, tínhamos que caçar para comer, andávamos muito e comíamos pouco. Quem conseguia poupar mais energia, sobrevivia. E agora temos praticamente a mesma genética (poupadora de energia) em um ambiente totalmente diferente, com abundância de alimentos. Diante deste cenário, o que podemos fazer? A primeira coisa é não subestimar a gravidade e a complexidade do problema. A obesidade é uma doença crônica, multissistêmica e recidivante. Tem fisiopatologia própria e deve ser prevenida e tratada.  E abro um parêntese: considerar a obesidade uma doença não é gordofobia. Gordofobia é extremamente frequente e devemos combatê-la. Mas podemos fazer isso sem negar que seja um problema de saúde e que pode e merece ser tratado. Não devemos romantizar a obesidade.  Já foi comprovado, por meio de estudos de autópsia de crianças e adolescentes falecidos por morte de causa externa, que a doença aterosclerótica tem início na infância. Também, que a obesidade, a dislipidemia e a hipertensão são fatores de risco para esse início precoce, acelerando sua progressão. Além disso, é grande a chance de uma criança acima do peso que não recebe tratamento vir a ser um adulto também com excesso de peso. A obesidade diminui a expectativa de vida do indivíduo.  O ideal seria prevenir o excesso de peso?  Sim, com certeza. Prevenção seria o ideal. Como o tratamento da obesidade não é fácil, o nosso foco deveria ser na prevenção. Infelizmente, as estatísticas mostram que nós não estamos conseguindo prevenir esta condição. Como seria essa prevenção?  Podemos atuar desde o pré-natal, para que a mãe tenha um ganho de peso adequado durante a gestação. Já se sabe que o ganho de peso excessivo durante esta fase predispõe à obesidade do filho.  Devemos apoiar o aleitamento materno. O aleitamento materno exclusivo, pelos menos até os 4 meses de vida do bebê, já reduz em 22% o risco de obesidade nessa criança.  Podemos promover hábitos de vida saudáveis para todos da família nas consultas de puericultura. E fazer o acompanhamento regular do crescimento durante toda a infância e adolescência, utilizando a curva de IMC (índice de massa corporal) desde o nascimento. Devemos intervir precocemente quando a curva de peso e IMC estiverem ascendentes.  Diagnóstico e intervenção precoces são muito importantes.  Qual um erro frequente no manejo desses pacientes?  Além de subestimar a gravidade da doença, é um erro frequente subestimar a sua complexidade. Precisamos parar com essa visão simplista e preconceituosa de que alguém fica acima do peso simplesmente porque consome mais calorias do que gasta.  A obesidade é uma doença de natureza complexa e multifatorial decorrente da associação entre fatores ambientais, hormonais, genéticos e epigenéticos.  Mas a sociedade tende a achar que uma pessoa com obesidade está assim por escolha própria, por preguiça, desleixo, por fraqueza de caráter, por falha moral e por aí vai… Muito frequentemente os próprios profissionais de saúde têm essa visão e não gostam de atender esses pacientes.  As crianças e adolescentes com obesidade já convivem com o estigma da doença, que só vem aumentando, por sinal.  O sofrimento emocional decorrente da obesidade é o principal motivo pelo qual procuram ajuda.  A abordagem desses pacientes e de suas famílias deve ser cuidadosa. Uma palavra ou termo utilizado de maneira inadequada durante a consulta médica pode ser percebido pelo paciente como julgamento, crítica – mesmo tendo sido feito na melhor das intenções.  A linguagem importa e não precisamos mudar a língua portuguesa para tratar o paciente com respeito e empatia.  Por exemplo: devemos evitar chamar o paciente de obeso. O paciente não é obeso; ele está com obesidade. Assim como não falamos paciente canceroso, falamos paciente com câncer. Também podemos evitar o termo excesso de gordura. Uma palavra melhor seria excesso de peso, ou peso acima do considerado saudável. A genética tem muita influência?  A genética desempenha um papel importante no fenótipo nutricional. Mesmo em um mesmo ambiente, pessoas têm índices de massa corporal diferentes de acordo com a predisposição genética para a obesidade. Ela pode influenciar de 40 a 80% do fenótipo. Quanto mais grave a obesidade, maior é a influência da genética.  Estudos da década de 90, que acompanharam o crescimento e desenvolvimento de gêmeos monozigóticos e dizigóticos que foram separados na infância, mostraram 70% de concordância no índice de massa corporal entre os irmãos, mesmo vivendo em ambientes completamente diferentes, com famílias diferentes.  Mas a pessoa com excesso de peso come mais e pior? Muitas vezes sim. Diversos genes relacionados à obesidade são expressos no cérebro e influenciam o

O que não me contaram sobre o internato

Coluna: o que não me contaram sobre o internato.

Olá! Meu nome é Thais Albuquerque, eu sou médica e psicóloga e hoje vim falar sobre as coisas que não me contaram sobre o internato. Antes de irmos para a leitura de hoje, gostaria de agradecer pela oportunidade e pela repercussão que tive no meu primeiro texto escrito aqui no blog Blackbook. Ah, e se você ainda não teve oportunidade de ler, recomendo você clicar no banner abaixo pra já ler assim que terminar este conteúdo aqui! Agora sim, vamos lá! O tão aguardado internato da faculdade de medicina Hoje em dia as faculdades de medicina se organizam com dois modelos de ensino muito diferentes entre eles. O primeiro modelo é o tradicional, que inclui a metodologia que a gente já conhece de ensino passivo, sala de aula, professor ensinando e avaliações periódicas da aprendizagem. A segunda metodologia de ensino é o PBL (Problem Based Learning, traduzindo significa aprendizado baseado em problemas), que tem se tornado mais frequente nas faculdades do país. Nele, não existe separação entre as matérias: a aprendizagem acontece através de discussão de casos clínicos nas tutorias, compostas por um grupo de alunos e um professor tutor. Em cada caso clínico, são discutidos temas importantes que darão a base do ensino médico, aproximando a prática clínica do conteúdo básico necessário. Dependendo do modelo em que sua faculdade está inserida, a prática médica do dia a dia pode estar mais presente ou mais distante.  Nas faculdades cujo modelo de ensino é o tradicional, os 2 primeiros anos correspondem ao ensino básico, onde temos aula de biologia celular, biologia molecular, genética, etc (ficamos bem longe dos pacientes). Os 2 anos seguintes correspondem ao ciclo clínico, onde temos um pouco mais de contato com as doenças e podemos ter algum (pouco) contato com os pacientes. Finalmente chegamos nos 2 últimos anos, os mais esperados de todos, conhecido como internato. É aí que passamos mais tempo no hospital, atendemos pacientes, discutimos casos, etc.  Cada fase é marcada por muito aprendizado e desenvolvimento. Mas não dá para negar que para quem cursa uma faculdade do método tradicional (como é o meu caso), os 2 primeiros anos são os mais maçantes e distantes da prática médica. Claro que entrar pela primeira vez no laboratório de anatomia e ter nosso primeiro contato com as peças anatômicas é maravilhoso. É de encher os olhos de lágrima de emoção. Mas para quem sonha em atender pessoas, curar doenças, passar 2 anos inteiros entre laboratórios de anatomia e microscópios, não é a coisa mais legal do mundo. A prática médica só costuma vir no início do quinto ano nas faculdades tradicionais, quando entramos no último ciclo da faculdade. Ele mesmo: o tão aguardado e, porque não dizer temido, internato. A mudança é muito drástica. Enquanto nos quatro primeiros anos a gente está habituado a passar a maior parte do tempo em sala de aula, matérias com professor, lousa e slides, tudo muda no quinto ano em diante.  Meus principais aprendizados Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Thaís Albuquerque (@tha.is.albuquerque) A importância da escuta clínica É no começo do internato que a gente tem contato com pacientes da vida real. Foi quando eu me dei conta de que a escuta clínica, desenvolvida na faculdade de psicologia, poderia ser minha principal aliada. Seres humanos reais Quando a gente se depara com uma história real, com uma pessoa que está passando por um momento delicado, na grande maioria das vezes marcado por fragilidade e sofrimento, é que a gente se dá conta do peso da responsabilidade da nossa profissão.  A importância de dar um passo de cada vez Não adianta querer antecipar as coisas. Se tornar médica é um processo e, por isso, se faz necessário passar por todos os passos da aprendizagem. Para fazer um bom internato, é preciso ter feito um bom ciclo clínico. Para fazer o ciclo clínico bem feito, é preciso ter o ciclo básico bem fundamentado. Vale muito mais a pena curtir todos os passos e todos os momentos do que querer correr uma maratona sem treino adequado pra conquistar o poder do carimbo médico. Mais do que um carimbo, o CRM é nosso compromisso com nossa escolha e com as pessoas que confiam no nosso conhecimento.  O internato me ajudou a confirmar minha escolha profissional Foi durante o internato que eu tive a certeza de estar na profissão certa, eu não me via mais fazendo outra coisa, se não a medicina. Foi o período que me ajudou também a determinar as escolhas que eu faria depois de formada. Por exemplo, eu não me via trabalhando em plantões noturnos ou aos finais de semana. Rotinas extenuantes estavam fora da minha escolha profissional, na medida do possível. Busquei uma especialidade médica, que hoje é a Medicina de Família e Comunidade. Ela me permite trabalhar em horário comercial, de segunda à sexta. Também me proporciona o privilégio de estar próxima da minha família, amigos e pessoas que amo. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Thaís Albuquerque (@tha.is.albuquerque) E você? Sabia das diferenças no ensino médico do Brasil? Me conta qual deles você prefere e o porquê, eu vou adorar saber. Não deixem de me seguir nas redes sociais e confira meus textos para o blog Blackbook! Um beijo e até a próxima. Thais AlbuquerqueFormada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), em 2012 e em Medicina pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), em 2020. Trabalha nas redes sociais desde 2015, compartilhando seus anseios e suas experiências com a medicina desde então.

O que eu gostaria de saber quando me formei em Medicina

O que eu gostaria de saber quando me formei em Medicina - Thais Albuquerque

Olá! Meu nome é Thais Albuquerque, eu sou médica e psicóloga. Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é falar e compartilhar sobre a importância de fazermos escolhas nas nossas vidas que nos guiem pra satisfação pessoal e profissional. Se você ainda não me conhece, vou te contextualizar. Eu sempre quis ser médica, desde que me entendo por gente, mas o acesso a faculdade de medicina me foi negado por diversas vezes. Depois de 4 anos de tentativas e negativas, acabei optando por um plano B e entrei em psicologia na USP – curso que definitivamente não me traria realização profissional, mas colabora e muito com a profissional que eu sou hoje. Depois de 5 anos de cursinho e 1 ano trabalhando, me vi tentando sobreviver no mercado de trabalho e tentando preencher um vazio que crescia quase exponencialmente. Eu precisava ser médica, nem que eu chegasse na faculdade e percebesse que nada daquilo faria sentido, mas eu precisava tentar de novo. Por isso, eu voltei para os bancos do cursinho, estudei com todo afinco que pude até finalmente ingressar no curso de medicina da faculdade de medicina de São José do Rio Preto, a FAMERP – uma faculdade estadual no interior do Estado de São Paulo.  E o que aconteceu quando me formei? Como eu imaginava, a medicina fez todo o sentido que eu buscava. Eu me sentia feliz estudando, indo às aulas, aprendendo, perguntando, entendendo e até sofrendo com milhares de provas, relatórios e trabalhos em grupo. Eu vivi os 6 anos mais desafiadores da minha vida pra finalmente ser quem eu sempre sonhei. Hoje já se passaram quase 3 anos desde que eu me formei e  comecei a atuar um pouco como médica e um pouco como psicóloga, afinal de contas não consigo imaginar um atendimento clínico que seja desvinculado de uma escuta terapêutica. Esse tempo já formada tem sido tão desafiador, ou mais, quanto os 6 anos de medicina. Muitas coisas acontecem depois que a gente atravessa o “portal” da medicina e quase ninguém fala sobre elas, talvez porque estragaria um pouco o glamour (do qual eu não concordo) que envolve a figura do profissional médico. A seguir, compartilho 4 coisas que eu gostaria de saber logo que me formei! Vem comigo neste texto preparado com muito carinho e me conta o que você acha, combinado?  1. A rotina é extenuante, sim! Trabalhar com medicina é na maioria das vezes trabalhar exaustivamente, ter rotinas atribuladas, pouco tempo pra viver outras coisas, viver com muitos conflitos internos, muitas cobranças e medos que são pouquíssimos trabalhados durante a graduação. Não, o intuito desse texto não é te desestimular, muito pelo contrário. É ampliar o debate sobre como é a vida sendo médica para além de toda idealização que começamos a criar antes mesmo de entrarmos na faculdade. As pessoas são diferentes, têm limiares diferentes de tolerância em relação ao cansaço e, em outras palavras, o que pode ser considerado por mim uma rotina de cansaço, pra você pode ser uma rotina leve.  Aqui a “palavra de ordem” é respeitar o colega e não trazer discursos como “ah, mas, na minha época eu dava plantões de 72 horas e aguentava sem reclamar”. Respeitando os seus limites, que são tão individuais e íntimos, é o que pode fazer a principal diferença na sua relação com a medicina.  2. Apesar das dificuldades, vale muito a pena Hoje eu entendo que o percurso que eu fiz foi exatamente o necessário e acertado pra que eu conseguisse olhar pra minha rotina e pudesse fazer escolhas. E mesmo com todas as dificuldades que eu tive e venho tendo na minha rotina, a medicina sempre está entre elas, porque ela fazia sentido desde que eu me entendi como gente. Eu realmente não sabia como era a realidade e a prática no dia a dia. Talvez se soubesse teria me formado com menos idealizações, com mais pé no chão e com ainda mais certeza de que ser médica é a minha escolha mais acertada de todas. Mas a satisfação alcançada após o reconhecimento do paciente, do elogio vindo da família que se sentiu acolhida e bem cuidada, daquele paciente que você observa sua evolução e melhor a cada consulta. Essa é a medicina que me faz brilhar os olhos. É inegável que, quando eu digo que vale a pena, eu também falo da estabilidade financeira que a medicina proporciona. E é isso que me leva ao terceiro ponto deste texto! 3. Dinheiro é bom, sim, mas, não é tudo! Eu não vou ser hipócrita e dizer que o salário no fim do mês não importa. Mas peço atenção a esse tema. Eu percebo muitos colegas que se formaram, conseguem fazer seus primeiros plantões e recebem os seus primeiros salários e aí que mora o perigo. Durante a graduação da faculdade de medicina, e arrisco a dizer que em nenhuma outra faculdade, nós não temos uma preparação sobre como lidar com o dinheiro. O dinheiro começa a entrar e muitos alunos começam a criar dívidas fazendo uma conta simplista pensando “ah, tudo bem, com 1 ou 2 plantões eu pago isso”. E, não existe nada mais valioso que o nosso tempo. É muito fácil se perder nessas contas e, quando você se dá conta, todos os seus dias, incluindo os finais de semana, estão comprometidos. Você entra num ciclo de precisar fazer cada vez mais plantões médicos para sustentar um estilo de vida que talvez ainda não caiba na sua vida. A gente costuma olhar médicas e médicos de carreira, que já estão com seus 30, 40 anos de formado e tentam alcançar o salário deles. Mais uma vez eu recomendo: respeite o seu tempo, avance gradualmente na sua carreira e com calma.  4. Como conseguir e escolher o primeiro plantão Posso trazer esse assunto com mais detalhes em um novo texto aqui do Blog Blackbook. Mas logo que a gente se forma na faculdade de medicina começam a surgir os grupos de plantões.