O que não me contaram sobre o internato
Olá! Meu nome é Thais Albuquerque, eu sou médica e psicóloga e hoje vim falar sobre as coisas que não me contaram sobre o internato. Antes de irmos para a leitura de hoje, gostaria de agradecer pela oportunidade e pela repercussão que tive no meu primeiro texto escrito aqui no blog Blackbook. Ah, e se você ainda não teve oportunidade de ler, recomendo você clicar no banner abaixo pra já ler assim que terminar este conteúdo aqui! Agora sim, vamos lá! O tão aguardado internato da faculdade de medicina Hoje em dia as faculdades de medicina se organizam com dois modelos de ensino muito diferentes entre eles. O primeiro modelo é o tradicional, que inclui a metodologia que a gente já conhece de ensino passivo, sala de aula, professor ensinando e avaliações periódicas da aprendizagem. A segunda metodologia de ensino é o PBL (Problem Based Learning, traduzindo significa aprendizado baseado em problemas), que tem se tornado mais frequente nas faculdades do país. Nele, não existe separação entre as matérias: a aprendizagem acontece através de discussão de casos clínicos nas tutorias, compostas por um grupo de alunos e um professor tutor. Em cada caso clínico, são discutidos temas importantes que darão a base do ensino médico, aproximando a prática clínica do conteúdo básico necessário. Dependendo do modelo em que sua faculdade está inserida, a prática médica do dia a dia pode estar mais presente ou mais distante. Nas faculdades cujo modelo de ensino é o tradicional, os 2 primeiros anos correspondem ao ensino básico, onde temos aula de biologia celular, biologia molecular, genética, etc (ficamos bem longe dos pacientes). Os 2 anos seguintes correspondem ao ciclo clínico, onde temos um pouco mais de contato com as doenças e podemos ter algum (pouco) contato com os pacientes. Finalmente chegamos nos 2 últimos anos, os mais esperados de todos, conhecido como internato. É aí que passamos mais tempo no hospital, atendemos pacientes, discutimos casos, etc. Cada fase é marcada por muito aprendizado e desenvolvimento. Mas não dá para negar que para quem cursa uma faculdade do método tradicional (como é o meu caso), os 2 primeiros anos são os mais maçantes e distantes da prática médica. Claro que entrar pela primeira vez no laboratório de anatomia e ter nosso primeiro contato com as peças anatômicas é maravilhoso. É de encher os olhos de lágrima de emoção. Mas para quem sonha em atender pessoas, curar doenças, passar 2 anos inteiros entre laboratórios de anatomia e microscópios, não é a coisa mais legal do mundo. A prática médica só costuma vir no início do quinto ano nas faculdades tradicionais, quando entramos no último ciclo da faculdade. Ele mesmo: o tão aguardado e, porque não dizer temido, internato. A mudança é muito drástica. Enquanto nos quatro primeiros anos a gente está habituado a passar a maior parte do tempo em sala de aula, matérias com professor, lousa e slides, tudo muda no quinto ano em diante. Meus principais aprendizados Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Thaís Albuquerque (@tha.is.albuquerque) A importância da escuta clínica É no começo do internato que a gente tem contato com pacientes da vida real. Foi quando eu me dei conta de que a escuta clínica, desenvolvida na faculdade de psicologia, poderia ser minha principal aliada. Seres humanos reais Quando a gente se depara com uma história real, com uma pessoa que está passando por um momento delicado, na grande maioria das vezes marcado por fragilidade e sofrimento, é que a gente se dá conta do peso da responsabilidade da nossa profissão. A importância de dar um passo de cada vez Não adianta querer antecipar as coisas. Se tornar médica é um processo e, por isso, se faz necessário passar por todos os passos da aprendizagem. Para fazer um bom internato, é preciso ter feito um bom ciclo clínico. Para fazer o ciclo clínico bem feito, é preciso ter o ciclo básico bem fundamentado. Vale muito mais a pena curtir todos os passos e todos os momentos do que querer correr uma maratona sem treino adequado pra conquistar o poder do carimbo médico. Mais do que um carimbo, o CRM é nosso compromisso com nossa escolha e com as pessoas que confiam no nosso conhecimento. O internato me ajudou a confirmar minha escolha profissional Foi durante o internato que eu tive a certeza de estar na profissão certa, eu não me via mais fazendo outra coisa, se não a medicina. Foi o período que me ajudou também a determinar as escolhas que eu faria depois de formada. Por exemplo, eu não me via trabalhando em plantões noturnos ou aos finais de semana. Rotinas extenuantes estavam fora da minha escolha profissional, na medida do possível. Busquei uma especialidade médica, que hoje é a Medicina de Família e Comunidade. Ela me permite trabalhar em horário comercial, de segunda à sexta. Também me proporciona o privilégio de estar próxima da minha família, amigos e pessoas que amo. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Thaís Albuquerque (@tha.is.albuquerque) E você? Sabia das diferenças no ensino médico do Brasil? Me conta qual deles você prefere e o porquê, eu vou adorar saber. Não deixem de me seguir nas redes sociais e confira meus textos para o blog Blackbook! Um beijo e até a próxima. Thais AlbuquerqueFormada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), em 2012 e em Medicina pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), em 2020. Trabalha nas redes sociais desde 2015, compartilhando seus anseios e suas experiências com a medicina desde então.
7 rotinas para o médico da família consultar no Blackbook
Conhecimento nunca é demais para o médico da família. Saiba quais rotinas do Blackbook podem ajudar o profissional! O médico da família tem um papel essencial para a saúde e a qualidade de vida da população. Segundo estudo realizado em 20201, estima-se que há 7.149 profissionais atuando na Medicina da Família e Comunidade no Brasil. Foram considerados o número de inscrições nos Conselhos Regionais de Medicina e títulos de especialista. Figurando entre as 15 especialidades mais procuradas pelos residentes, o médico da família tem como prioridade o relacionamento com o paciente. Essa atenção primária, quando não auxilia as pessoas na resolução de problemas clínicos, tem papel decisivo no encaminhamento para especialistas. Além disso, destacamos que as orientações de promoção de saúde e de adoção de um estilo de vida saudável ajudam a prevenir problemas como obesidade, diabetes, tabagismo, alcoolismo, entre outros. Para o profissional da Medicina da Família e Comunidade, buscar o conhecimento e a solução para dúvidas para as tomadas de decisão são práticas essenciais. É por isso que separamos 7 sugestões de rotinas do conteúdo Blackbook para consultar sempre que necessário. Confira! Atenção primária à saúde É a porta de entrada e a base dos sistemas de saúde pública do mundo, inclusive do SUS. No Brasil, consiste em uma rede de atenção com base na Estratégia de Saúde da Família (ESF) e de Unidades Básicas de Saúde (UBS). Seu objetivo é prestar atenção básica, generalista, centrada na família e focada na comunidade. A eficácia do sistema de saúde depende de um equilíbrio entre as ações curativas, de reabilitação, preventivas e de promoção de saúde, que deve ser coordenada dentro de uma equipe multiprofissional local. Os principais desafios da Atenção Primária pública são de financiamento e de gestão para conseguir implantar em cada ponto de atenção uma assistência de qualidade e que possa ser capaz de garantir resolutividade de 80 e 85% das demandas de saúde da população assistida. Na rotina de mesmo nome do Blackbook, você encontra a sistematização: Consulta de avaliação e promoção de saúde As consultas preventivas e de promoção de saúde são uma excelente oportunidade de estreitar o vínculo de confiança entre o profissional e o paciente. Isso tem impacto direto na adesão e eficácia de todos os tratamentos prescritos, bem como contribui para evitar doenças futuras, como hipertensão arterial, diabetes e obesidade. Rotinas e sistematizações de abordagem preventiva nessas consultas podem torná-las mais eficazes – sobretudo pela identificação e controle dos fatores de risco, orientações de promoção de saúde e mudanças de hábitos de vida nocivos ou que pioram a mortalidade. Como a demanda por consultas de controle sem queixas específicas tende a diminuir nos dias atuais, é importante que o profissional inclua essas ações preventivas nas demais consultas de controle de doenças crônicas ou por problemas agudos de saúde. Recomendações de promoção de saúde: Roteiro básico de anamnese e exame físico Uma das bases da prática profissional do médico é a capacidade de fazer uma avaliação detalhada e minuciosa do paciente pela sua história clínica e exame físico. Ela deve de abrangência sem deixar de ser objetiva e eficiente pela limitação do tempo. Roteiros de anamnese e exame físico são muito úteis, sobretudo na fase aprendizado e início de carreira, até que o profissional adquira experiência e sistematize seu próprio atendimento. Além das questões técnicas relacionadas ao diagnóstico, essas habilidades estão fortemente relacionadas à formação e ao reforço do vínculo com o paciente, mostrando empatia, interesse e usando linguagem adequada para o entendimento. Com o tempo e a experiência, o profissional desenvolve uma habilidade de dirigir, tanto a anamnese como o exame físico, para afastar ou confirmar de forma mais eficaz as hipóteses diagnósticas que vão aparecendo ao longo deste processo. Fundamentos da prescrição e da relação com o paciente Para abordar um paciente como um indivíduo singular e não como o portador de uma doença, o médico e demais profissionais de saúde precisam conhecê-lo e compreendê-lo melhor como pessoa. A prescrição é uma parte importante do cuidado médico, mas não é a principal. A qualidade do relacionamento médico paciente, a escuta qualificada dos problemas e queixas, e a capacidade de fazer o paciente adotar hábitos saudáveis de vida são muito mais importantes ao longo do tempo. É importante entender que, muitas vezes, o paciente precisa mais do médico, de sua atenção e cuidado, e não de medicamentos. Existem múltiplas considerações que o médico precisa fazer para a escolha adequada da terapia medicamentosa, como o diagnóstico, características de eficácia e segurança das alternativas medicamentosas, tipo e preferências do paciente, disponibilidade, custo, etc. Vacinas As imunizações e o saneamento básico são uma das formas mais eficazes e efetivas de prevenção de doenças e promoção de saúde. É uma obrigação do profissional de saúde cuidar para que todos os pacientes estejam com seu esquema vacinal atualizado. Vale lembrar que as vacinas são parte importante da atenção primária pública e postos de vacinação funcionam em grande parte das UBS (Unidades Básicas de Saúde) do SUS. Existem imunizações com ótima relação eficácia/segurança para doenças ou agentes específicos, como: Hipertensão arterial Hipertensão arterial é uma das doenças crônicas mais frequentes em adultos e o principal fator de risco cardiovascular. Acredita-se que mais da metade desses casos começam e podem ser abordados ainda na infância. É uma doença assintomática e seu diagnóstico depende da medida dos níveis pressóricos de forma periódica e frequente – sobretudo após os 55 anos, nos pacientes com obesidade abdominal e história familiar de hipertensão ou com outros fatores de risco cardiovascular. O tratamento inclui o uso de medicamentos e mudanças no estilo de vida que ajudam a reduzir os níveis pressóricos ou melhorar os demais fatores de risco. Embora o tratamento farmacológico deva ser iniciado precocemente, a estratégia de controle inicial apenas com medidas medicamentosas é questionável em termos de eficácia, sobretudo nos pacientes com risco cardiovascular elevado (> 10%). Diabetes O diabetes tipo 1 típico da infância e adolescência é a forma insulino-dependente de diabetes causada por falência de produção de insulina